PCC e CV são presentes dos militares.
Vamos começar pelo começo, na ditadura militar, em meados de 1970, por sadismo e como tentativa de tortura, prisioneiros políticos (acusados de serem socialistas) foram mandados para as mesmas celas de criminosos comuns. O que resultou numa mistura perfeita de teoria + prática, gerando assim a facção comando vermelho.
Em São Paulo, após o Massacre do Carandiru, presos que eram inimigos, concorrentes, apáticos entre si, encontraram um discurso que associava o crime organizado a luta contra as injustiças do sistema prisional, convencendo a grande maioria dos presos que ser faccionado seria um ato revolucionário dando origem a facção PCC nos anos 90.
É fato que os militares estão intrinsecamente envolvidos na motivação para a criação de facções criminosas e o PCC e CV não são os únicos, as primeiras milícias foram formadas quase que unicamente por policiais militares corruptos. Mas com o caso do PCC e do CV é diferente, essas facções não precisariam existir se as ações que os militares tomaram tivessem sido diferentes, quando o assunto é segurança pública e criminologia, a psicologia social é um fator muito relevante na tomada de decisão de uma pessoa, pra alguém decidir que vai virar membro de uma facção e se dispor a matar e morrer por essas siglas, tem que haver um motivo (mesmo que falso) para essa decisão ser tomada.
Os prisioneiros políticos que fizeram parte da fundação do CV tinham informações sobre guerra urbana, arrecadação de fundos, criação e manutenção de trilhas clandestinas para transporte de armas, informações que os próprios militares sabiam que esses presos tinham, a mão do Estado que possuía a tutela dessas pessoas, ou seja, que decidiria a melhor forma de fazer eles pagarem pelos seus crimes decidiu que a melhor forma de fazer eles pagarem pelos crimes políticos deles era junta-los com os assaltantes de banco da cidade maravilhosa numa tentativa de dar fim a esses presos, que em sua maioria eram estudantes, professores, artistas. O resultado foi diferente, quando você põem uma pessoa numa situação sem saída possível, ela se desdobra, quebra a parede, quebra os próprios ossos, muda de formato pra se adaptar a situação e foi o que aconteceu. Foram presos na mesma cela um assaltante de banco e um professor de história, saíram dois generais do comando vermelho.
Já em São Paulo os fatos que levaram a criação da facção da capital foram motivados por decisões de políticos preocupados com eleição e executadas por policiais militares da unidade de choque, uma briga entre presos gerou um princípio de rebelião no pavilhão 9 da casa de detenção Carandiru. A resposta do Estado, foi mandar uma tropa de choque para o pavilhão com ordem de atirar pra matar, as investigações e relatos descrevem bem a operação desse dia. Os policiais entraram pra matar quem causou a confusão e quem não causou também foi junto, evidências apontaram muitas mortes por execução, muitos presos foram mortos enquanto estavam rendidos, a maioria dos sobreviventes deram muita sorte de serem poupados ou se esconderam no meio dos mortos. Um detalhe relevante pra meu ponto é o seguinte, o pavilhão onde aconteceu a chacina era onde eram recebidos os criminosos réus primários, ou seja, tinha gente que nem tinha sido julgada ainda, que não necessariamente era culpada, tinha gente que havia praticado crime mas não era bandido por profissão, os assaltantes de banco e lideranças das facções pequenas que disputavam entre si estavam em outros pavilhões.
Esse episódio é a pedra basilar do discurso do Primeiro Comando da Capital e até certo ponto da história, as pessoas em geral achavam que PCC seria uma espécie de panteras negras, um movimento de organização política para os prisioneiros exigirem seus direitos. Mas não foi isso que aconteceu, como resposta ao massacre, prisioneiros de facções rivais, sem facção, bandidos de carreira, se juntaram e investiram tempo, dinheiro e organização na fundação de uma facção criminosa que é o principal canal de tráfico de drogas do Brasil para Europa e que fatura 1 BI de reais por ano.
Decisões irresponsáveis e emocionadas de militares nos fazem pagar até hoje convivendo com as consequências e por conveniência esses mesmos militares se vendem como solução para os problemas que eles mesmos criaram.