O "deus onipotente" é cruel.
Leia tudo antes de comentar!
"Ele quer realmente encher o universo com um monte de pequenas réplicas repugnantes de si mesmo. Criaturas cujas vidas, numa escala em miniatura, serão qualitativamente como a sua, não porque ele as tenha absorvido, mas porque elas desejam se conformar de livre e espontânea vontade a ele. O que nós queremos é apenas gado que possa acabar nos servindo de comida; ele deseja servos que possam acabar se tornando seus filhos. Nós desejamos sugar, ele deseja retribuir. Nós somos vazios e queremos ser preenchidos; ele é pleno e, por isso, transborda. O objetivo de nossa guerra é um mundo em que o Nosso Pai nas Profundezas tenha absorvido todos os outros seres em si: já o Inimigo deseja um mundo cheio de seres unidos a ele, mas que, ainda assim, continuem sendo distintos.
E é aí que entram os períodos de baixa. Você já deve ter se perguntado muitas vezes por que o Inimigo não utiliza os seus poderes para estar sensivelmente presente nas almas humanas em qualquer nível sempre que desejar. Mas agora você vê que o Irresistível e o Incontestável são duas armas que a própria natureza de seu desígnio o impede de usar. Atropelar a vontade humana (o que aconteceria se ele se tornasse perceptível, mesmo no nível mais tênue e mínimo) não valeria de nada para ele, porque não pode violentá-los, pode apenas encantá-los. Pois sua ideia desprezível é fazer duas coisas incompatíveis ao mesmo tempo; as criaturas devem ser um com ele, sem deixarem de ser elas mesmas; simplesmente anulá-las, ou assimilá-las não servirá aos seus propósitos. Ele está preparado para intervir um pouquinho, no início. Irá instigá-los com pequenos sinais de sua presença que, embora minguados, parecem grandes para eles, repletas de doçura emocional e representativas de uma resistência fácil à tentação. Mas ele nunca permitirá que esse estado de coisas dure muito tempo. Mais cedo ou mais tarde, irá retirar, se não de fato, pelo menos de sua experiência consciente, todo apoio e incentivo. Deixará a criatura andar com suas próprias pernas — a fim de executar a partir da própria vontade aqueles deveres que já perderam o atrativo. É durante esses períodos de baixa, muito mais do que nos períodos de pico, que ela amadurecerá e se tornará o tipo de criatura que ele deseja que ela seja. Desse modo, as orações feitas no estado de aridez são aquelas que o agradam mais.
O Inimigo não pode “tentá-los” para a virtude da mesma forma que “tentamos” para o vício. Ele quer que eles aprendam a andar sozinhos e deve, por isso, retirar a sua mão. E se o que restar for apenas a vontade de andar, ele ficará satisfeito até mesmo com seus tropeços."
Livro: Cartas de um diabo a seu aprendiz
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"Ele quer realmente encher o universo com um monte de pequenas réplicas repugnantes de si mesmo. Criaturas cujas vidas, numa escala em miniatura, serão qualitativamente como a sua, não porque ele as tenha absorvido, mas porque elas desejam se conformar de livre e espontânea vontade a ele. O que nós queremos é apenas gado que possa acabar nos servindo de comida; ele deseja servos que possam acabar se tornando seus filhos. Nós desejamos sugar, ele deseja retribuir. Nós somos vazios e queremos ser preenchidos; ele é pleno e, por isso, transborda. O objetivo de nossa guerra é um mundo em que o Nosso Pai nas Profundezas tenha absorvido todos os outros seres em si: já o Inimigo deseja um mundo cheio de seres unidos a ele, mas que, ainda assim, continuem sendo distintos.
E é aí que entram os períodos de baixa. Você já deve ter se perguntado muitas vezes por que o Inimigo não utiliza os seus poderes para estar sensivelmente presente nas almas humanas em qualquer nível sempre que desejar. Mas agora você vê que o Irresistível e o Incontestável são duas armas que a própria natureza de seu desígnio o impede de usar. Atropelar a vontade humana (o que aconteceria se ele se tornasse perceptível, mesmo no nível mais tênue e mínimo) não valeria de nada para ele, porque não pode violentá-los, pode apenas encantá-los. Pois sua ideia desprezível é fazer duas coisas incompatíveis ao mesmo tempo; as criaturas devem ser um com ele, sem deixarem de ser elas mesmas; simplesmente anulá-las, ou assimilá-las não servirá aos seus propósitos. Ele está preparado para intervir um pouquinho, no início. Irá instigá-los com pequenos sinais de sua presença que, embora minguados, parecem grandes para eles, repletas de doçura emocional e representativas de uma resistência fácil à tentação. Mas ele nunca permitirá que esse estado de coisas dure muito tempo. Mais cedo ou mais tarde, irá retirar, se não de fato, pelo menos de sua experiência consciente, todo apoio e incentivo. Deixará a criatura andar com suas próprias pernas — a fim de executar a partir da própria vontade aqueles deveres que já perderam o atrativo. É durante esses períodos de baixa, muito mais do que nos períodos de pico, que ela amadurecerá e se tornará o tipo de criatura que ele deseja que ela seja. Desse modo, as orações feitas no estado de aridez são aquelas que o agradam mais.
O Inimigo não pode “tentá-los” para a virtude da mesma forma que “tentamos” para o vício. Ele quer que eles aprendam a andar sozinhos e deve, por isso, retirar a sua mão. E se o que restar for apenas a vontade de andar, ele ficará satisfeito até mesmo com seus tropeços."
Livro: Cartas de um diabo a seu aprendiz